sábado, 27 de outubro de 2012

Mudança da Hora - Melancolia

Amanhã a esta hora serão ainda 5.10, mas o sol já morrerá mais cedo.

Esta mudança implica psicologicamente uma nova readaptação ao modo inverno. Chamamos-lhe Hora de Inverno por alguma razão. Melancolia.

A mudança horária tem por fim reduzir o consumo global de energia, fazendo coincidir o início da jornada laboral com as horas de luz.

A mudança horária foi uma medida que se adoptou pela primeira vez na primeira guerra mundial, quando alguns dos países implicados adoptaram esta medida tendo em vista poupar combustível. Esta situação repetiu-se em 1973, durante a crise do petróleo, durante a qual a maioria dos países industrializados adoptaram a mesma medida para fazer frente à complicada situação.



Hora do Mundo.com


Falei há pouco com o meu filho que apanhei, por acaso, no aeroporto de Singapura à espera do avião para Frankfurt - 11 horas - e depois para Lisboa, onde chegará amanhã. Mostrou-me uns sais que tinha comprado para as minhas artroses, era um saco lindíssimo, à boa maneira asiática.Gosto destas prendas. A Lufhansa o traga em bem.  O skype é maravilhoso.

Tirei umas fotos agora já ao fim da tarde. Todos os anos tiro fotos diferentes daqui da varanda, as árvores vão envelhecendo e nós também. Mas a beleza permanece.



Conviction - A Advogada

Vi este filme hoje.

Numa tarde calma, cinema vazio, sessão das 2.

Filme bem construído a partir duma história verídica. Um caso de condenação perpétua dum homem inocente, cuja irmã faz tudo para salvar da prisão.
Li depois em casa tudo o que há na net acerca do caso e é espantoso verificar como o filme retrata bem o que se passou na realidade.

A interpretação de Hillary Swank - que já ganhou um óscar há anos - vale o filme todo, a sua tenacidade, esperança, força deixa-nos estupefactos.
Mas a verdadeira Ann-Beth Waters, que aparee na foto abaixo foi e é assim ainda, pelas entrevistas que li.
Um caso bem real e que nos deixa completamente cépticos em relação à justiça americana. E diz-se que a nossa é má!


Vale a pena ver, gostei muito. É americano, mas real.
Acredita-se nalguma coisa.

Fica aqui o trailer:


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Somos burgueses....ou não?

A minha Amiga Regina colocou no seu blogue vários cartoons, criticando a situação política e a burguesia - daqueles que há mais de um ano nos enxameiam os mails, os jornais, as revistas e a net.

Lemo-los com um sorriso nos lábios, às vezes têm pinta, outras vezes cansam de repetitivos. É como os Gatos Fedorentos, com muita graça, mas que já cansam.

Cá em Portugal, o paleio é muito e rotativo, a ignorância atrevida, as bocas enormes e o desejo de trabalhar muito pouco.


Trabalhei sempre muito - fui uma workaholic , mesmo quando as aulas na Escola Profissional de Música ou no ISAI eram miseravelmente pagas e tinha de ir para lá as 8.30 da manhã no meu dia livre. Houve um ano em que fiz três manuais escolares para a editora, tendo que trabalhar no meu quarto de cama, pois não tinha escritório. Sempre fiz o que podia para conseguir dar aos filhos uma educação de alto nível, como eu própria tinha tido, instrumentos musicais, CDs e vídeos. Nunca tiveram coisas luxuosas ou de marca  e trabalharam no estrangeiro para lá estudarem. Ainda me lembro do meu filho a trabalhar na informática duma fábrica da Volkswagen em Munique e da minha filha a fazer sandes num snack bar Panini em Leeds, já bastante doente nessa altura.

Considero-me burguesa porque vivo bem, num apartamento duma zona chique - as razões por que vim para aqui são muitas e têm uma explicação simples: a minha filha tinha de viver perto de árvores, num andar baixo por razões de saúde e segurança, foi um sacrifício que fiz por ela e para estar perto do filho casado, pois a minha antiga casa era num 8º andar, sem verdes à volta. Este apartamento é menos bom em certos aspectos do que o outro, mas tem o jardim botânico ao pé e isso é benéfico para ela. Olha em volta e pensa que está em Inglaterra....no seu Yorkshire.

Estou cansada de ouvir dizer que temos de dar aos menos afortunados o nosso contributo, a minha reforma vai perder quase 200 euros em 2013 e já baixou outro tanto desde que me reformei.

Pergunto-me se é justo que sejamos nós a pagar o Estado Social quando, para termos saúde, nos deslocamos sempre a médicos privados, pagamos escolas privadas aos nossos filhos e netos sem pedir nem um tostão ao Estado, trabalhamos como todos - e como tolos - para o bem geral e mereceríamos um reforma decente ao fim de 37 anos de trabalho público... Sim, é justo?

Sou burguesa...como o são 90% dos que andam nas ruas a reclamar contra o governo.

Vivem em casas boas, pagam rendas irrisórias muitos deles, servem-se do SNS a torto e a direito. As minhas empregadas, a anterior e a de agora fizeram ambas operações nos hospitais públicos à nossa custa, têm baixas a toda a hora, consultas, remédios sem pagar quase nada. A actual frequenta a universidade sem pagar propinas, tem viagens para Angola oferecidas e mesmo assim chora-se constantemente por falta de meios. Só trabalha quando lhe apetece, falta mais do que vem.

Sim, sou burguesa, porque tive uma educação de elite, de que muito me orgulho e com a qual espero poder viver decentemente até desaparecer. Isso não me podem tirar.

Gosto de ter dinheiro. Não pelo dinheiro. Mas porque, com ele, posso ajudar a minha filha quando ela tem uma crise, posso apoiar os meus netos a aprender música, pude pagar ao meu filho um curso de Direito na Católica, posso ter um Mac para escrever o meu blogue, posso tirar fotografias com uma Lumix, posso ver séries boas na TV, comprar materiais de pintura... ser um bocadinho feliz e sonhar mais alto.

É pecado ser burguês?

E os que aí andam a reclamar depois de terem recebido benesses do Estado durante seis anos que dizimaram as contas públicas, esses não são burgueses???
Mostrem-me as suas casas, as suas TVs, as suas viagens, as suas roupas, as suas atividades de lazer, as suas refeições, os seus perfis no facebook, as suas máquinas fotográficas, os seus carros,  as suas casas de campo....sim, provem-me que não são burgueses.... e depois protestem!!

Desculpem, mas isto é um desabafo....que não consegui abafar.

É que às vezes a rolha salta! 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Outono

Nunca me canso dele....nem da música antiga.
Hoje antes de ir buscar os meus meninos ao colégio, estive deliciada a ouvir La Folia de Vivaldi e depois as diversas versões tocadas pelo grande Jordi Savall, um dos intérpretes mais fabulosos que jamais ouvi ao vivo, na sua viola de gamba.

As cores do outono que me têm enchido os olhos, não tanto ao vivo como no écran, acompanham bem este estado de alma. Há inumeros grupos no Facebook que excelam em fotos soberbas, muitas tiradas de madrugada, outras nos países nórdicos onde já é quase inverno. Há paisagens inacreditáveis, quem me dera ir para um desses países com campos a perder de vista.

 A hora já vai mudar no sábado e as tardes vão ficar mais curtas, o que me entristece um pouco. Mesmo assim aqui em Portugal temos mais horas de luz que em Inglaterra por exemplo, onde às 3 da tarde já era noite.

Ando com saudades de viajar...penso mesmo em ir a Londres e a Oxford em Dezembro se tudo correr bem quanto ao meu projecto.A minha filha adoraria ir lá no Advento. Tb tenho saudades de Munique onde havia concertos todos os dias e o mercado do Advento no meio da Marienplatz....muitos adventos lá passei. É uma época linda e festiva, em que o calor dos corações é mais perceptível.

Para já trabalho bastante, sonho muito e interpreto o meu papel de Avó o melhor que posso. è tão doce sentir a mão do meu neto mais novo agarrar a minha e dizer: Vóvó quero que vejas o Ruca ( no PC)  comigo, aqui mesmo juntinho...

Todas estas fotos são minhas de vários locais diversos. A da ponte foi tirada no Yorkshire Park e deve ser das fotos mais belas do Outono que jamais tirei. A da árvore é aqui de pé perto do Jardim da FCUP, onde as árvores ficam lindas.

O quadro foi feito há três anos a pastel de óleo. Ofereci-o a uma das minhas irmãs e ainda hoje tenho saudades dele...acontece-me frequentemente....



Fica aqui ainda um pedacinho do Jordi Savall para regressarmos à época medieval....

Enjoy!


domingo, 21 de outubro de 2012

Fim de tarde no jardim das maravilhas

O sol apareceu de repente no fim dum dia que já julgaria morto, cinzento e triste.
Os raios brancos penetraram nas nuvens e invadiram subitamente o jardim, onde fora em busca de alguma paz.
Sentia-me triste, em modo Vivaldi - Outono-, depois de ter estado horas a importar música barroca para o meu I'Tunes e, sabendo que o meu filho partira para a Àsia às 6 da manhã.

O jardim estava cheio de gente miúda que ali fora para ver a expo dos Insectos, patente ao público até Dezembro e que irei ver com os meus meninos um dia destes.
No café japonês, a mesma paz de sempre, um cházinho de menta com mel e um brownie de chá verde, ideal para me pôr em estado Zen.

Duas crianças brincavam junto ao lago de nenúfares, sarcófago da minha Leica. Riam-se a punham pedrinhas nas grandes folhas aveludadas, fazendo círculos até as pedrinhas terem o mesmo destino da minha querida máquina...há coisas que nunca se esquecem...e esse episódio ainda hoje faz corar de embaraço o meu neto querido que cometeu a travessura.

Fotografei-os sem receio. Quase que não se lhes vê os rostos, são crianças anónimas, felizes junto ao lago. Uma imagem rara nos dias que correm.


 Fui depois ver o caramanchão de vinha virgem, antes que a luz desaparecesse. Ali estava ele, preparado para mais um festim de outono, dir-se-ia que à espera duns noivos para a sua primeira noite de amor, resguardados num manto vermelho e castanho, mais belo que qualquer cetim ou tule ou mesmo seda.



Uma tarde linda, que mereceria um poema, se eu conseguisse fazê-lo...mas só consigo senti-lo cá dentro, mesclado da minha melancolia,  palavras soltas, multicolores como estas folhas de outono,  dançando lentamente ao som dum adagio de Vivaldi.


Poemas de Manuel António Pina e um adagio de Vivaldi


                                      
O LIVRO
É então isto um livro,
este, como dizer?, murmúrio,
este rosto virado para dentro de
alguma coisa escura que ainda não existe
que, se uma mão subitamente
inocente a toca,
se abre desamparadamente
como uma boca
falando com a nossa voz?
É isto um livro,
esta espécie de coração (o nosso coração)
dizendo “eu” entre nós e nós?

                            O regresso


Como quem, vindo de países distantes fora de
si, chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar,
o passado no passado, o presente no presente,
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.
Entra então pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,
cidades, estações do ano.
E come agora por fim um pão primeiro
sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.


As coisas


Há em todas as coisas uma mais-que-coisa
fitando-nos como se dissesse: “Sou eu”,
algo que já lá não está ou se perdeu
antes da coisa, e essa perda é que é a coisa.
Em certas tardes altas, absolutas,
quando o mundo por fim nos recebe
como se também nós fôssemos mundo,
a nossa própria ausência é uma coisa.
Então acorda a casa e os livros imaginam-nos
do tamanho da sua solidão.
Também nós um dia tivemos um nome
mas, se alguma vez o ouvimos, não o reconhecemos.



O segundo andamento do belo concerto de Vivaldi que o meu neto já toca dum modo que impressiona.