sábado, 12 de maio de 2012

O piano e a morte

Oiço no BRAVA um maravilhoso pianista tocando Chopin. Uma sonata impregnada de tons menores, duma tristeza indizível, mas com um vigor que nos desperta.



Penso em Bernardo Sassetti e na sua morte trágica. Morreu a fazer o que gostava a tirar fotografias num local paradisíaco.

Quem sofre é quem fica, penso na sua família bonita, nos seus filhos e mulher e na injustiça da Vida. Ficam as memórias e obra feita.

Chopin parece chorar com eles.



Sokolov toca a sonata em B- minor.

And the rest is silence....





sexta-feira, 11 de maio de 2012

Tradução

A partir de agora todas as entradas e posts podem ser traduzidos, clicando no botão Tradução e escolhendo a língua desejada. É claro que a tradução é fraca, mas dá para compreender o sentido geral das frases e a mensagem. Penso que isto é uma mais valia, já que muitas vezes uso o inglês ou o francês nas minhas citações. Também é bom para os meus amigos estrangeiros que não compreenderem o português.
Tal como os reflexos destas árvores no mar de Paraty, a tradução apresentará umas nuances diferentes, mas não menos belas:))

Boa leitura!

O Monte dos Vendavais - II

São cinco da manhã e estou a ler o romance online há horas, sem conseguir parar...

Esta é a história da paixão quase telúrica e visceral- entre Heathcliff - que vi representado por Lawrence Olivier pela primeira vez - e Catherine Earnshaw, amigos inseparáveis na sua infância e adolescência e eternos apaixonados.
É a história da impossibilidade duma relação pacífica entre ambos. É a história  de duas vidas que se desenrolam inevitavelmente em direcção a um fim funesto e angustiante. Não conseguimos deixar de os amar e de sofrer com eles...



Heathcliff sempre me fascinou. É a imagem da criança inocente, abusada fisicamente e que, mais tarde, só quer vingança sobre aqueles que tal fizeram. Esta vingança vai custar-lhe a morte da sua amada, frágil e dividida, e torturá-lo até ao fim dos seus dias.

Do blogue Virtualia:

Heathcliff, a personagem central masculina, é o próprio anti-herói, movido pelo amor que tem por Catherine e pelo desejo de vingança aos que o humilharam pela vida e contribuíram para a perda física deste amor. No seu mundo não há limites para a crueldade, ele usa a tortura física e mental para destruir todos que se lhe puseram à frente. Nada o detém, a não ser o seu amor incondicional por Catherine, amor que vence a morte e o tempo, mas que também é responsável por sua degradação moral, loucura e morte física. Heathcliff é uma das personagens mais inquietantes da literatura universal. Desperta ódio e paixão entre os leitores, é a própria essência bruta de todos os sentimentos.

O diálogo é dum realismo desarmante, palavras e actos são todos calculados, sabemos de antemão as intenções de cada um. É um estudo fascinante da psicologia humana, que não está longe, mesmo a 200 anos de distância, das novelas de hoje com as suas histórias de traições e vinganças destruidoras.

É impressionante como as Brontés, autoras fechadas num ghetto, a sua casa no moors, conseguiram captar as profundezas da alma humana, percepcionar a paleta de sentimentos que pode existir entre seres, o amor e o ódio que se degladiam com um ímpeto quase demoníaco e descrever tudo isto em romances fascinantes que nos atraem e repudiam simultaneamente.

Já amanheceu, os passarinhos chilreavam há pouco, mas já se calaram.

Fico por aqui. Tenho de dormir...se conseguir....já há muito que não lia clássicos...e tantos li na universidade e depois que me apaixonaram: Dostoiewsky, Victor Hugo, Goethe, Margareth Mitchell, Faulkner, Stendhal, Graham Greene, Jorge Amado, sei lá...horas e horas de prazer e estudo...bem empregado o tempo que passei na sua companhia. Como é que é possível não se ler?

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O Monte dos Vendavais

Sempre gostei  deste romance, para mim, um dos grandes clássicos ingleses, uma história de paixão arrebatadora, de vingança, ódio e discriminação social. Vi já três versões do livro em filme, mas nada me enlevou tanto como aquele romance antigo, com a capa quase a desfazer-se, pesado, cheio de folhas que li em jovem, de fio a pavio e que, durante uns dias, me fez crer que habitava a região desolada dos moors no Yorkshire, onde se desenrola o drama e onde, na desolação, pairam personagens amaldiçoadas pelo preconceito e a paixão.
Enquanto que no romance Jane Eyre, também um dos meus favoritos, há redenção no final, neste não existe uma gota de compaixão, perdão ou amor, nem mesmo nos olhares que se cruzam entre Heathcliff e Cathy, os dois jovens enamorados. Não há sequer um beijo entre os dois, a não ser quando ela morre nos seus braços.
O filme teve críticas negativas mas para mim é sublime no modo como nos faz sentir as personagens, moldadas pelo vento agreste e a chuva torrencial dos moors, no modo como, em duas horas sem música de fundo, consegue penetrar em nós e existir para lá de tudo.

Fechadas as luzes, foi silêncio total...só se ouvia o vento, a chuva, os ramos contra os vidros das janelas, os cães, os cavalos, as águias e vozes esparsas, o tremeluzir das velas... e diante dos nossos olhos a paisagem imensa, linda mas desesperada...

Um filme minimalista onde a Natureza desempenha um papel mais importante do que as pessoas, cenicamente uma maravilha, tal qual eu imagino e conheço o "meu" Yorkshire,  um dos lugares sagrados para mim por muitas razões e empatia quase irracional.



Um dos primeiros quadros que fiz sozinha foi este que coloquei aqui abaixo.

Não diz nada à maioria das pessoas, fi-lo para a minha filha e tenho-o aqui na minha sala. Chamei-lhe Moors em 2009.

É impressionante como, sem ter visto nenhuma fotografia na altura e tendo-o pintado de memória, a paisagem me parece hoje decalcada daquela que aparece neste drama e nele desempenha um papel tão fulcral.

 Há pouco falei com a minha filha ao telefone. Ela viu o filme há meses em Leeds, lembrava-se de tudo, disse-me o nome dos actores e realizador, comentou comigo o facto de Heathcliff ser negro em vez de cigano, como é no livro, conversámos sobre a minha paixão por este romance e a dela por Jane Eyre, rimos e ela concluiu: "Oh Mãezinha, que bom que é falar consigo! "

Quem me dera ter visto o filme com ela. Quem me dera tanta coisa....

quarta-feira, 9 de maio de 2012

The day after

Ontem foi um dia horrível, choveu toda a tarde, olhava pela janela e só via as árvores a torcerem-se com o vento, a chuva intensa, o céu cinzento.
Falei com a minha filha e ela estava muito ausente, o que me deixou mesmo deprimida.
Puz-me a ver um filme que tinha gravado e a meio reparei que já o tinha visto...comecei um quadro a pastel e ficou péssimo, cheguei à conclusão de que tinha desaprendido tudo.
Deitei-me desiludida com a vida e sem querer acordar no dia seguinte.

Hoje tudo mudou. Acordei cedo, fui ao Froiz encomendar as compras, que eles trazem a casa no mesmo dia ( já trouxeram), enchi o frigorífico de coisas boas.
Telefonei para Leeds e a enfermeira deu-me notícias, tratando-me com uma ternura e interesse que me comoveram. É excepcional a maneira como estes profissionais lidam com o dia a dia e são capazes de falar connosco sem a mínima impaciência, com desejo de confortar, preocupadas...não há palavras para descrever o que senti. Depois falei com a minha filha e ela parecia outra, era a minha, a que eu conheço, a que lê desalmadamente, que gosta de tudo o que lhe dão, enfim...


Resolvi então experimentar de novo o pastel. Sou muito teimosa e não desisto ao primeiro desaire. Não ficou nada de especial, demasiadas árvores - era o que eu via da janela do atelier - muito verde ( a cor da esperança), mas algum movimento e algo que me atrai.
Enamorei-me de novo do pastel de óleo. A maneira como as cores se misturam e a infinidade de cores possíveis tornam-no apetecível. Vou pintar mais em breve.

Ha sempre esperança no dia seguinte.

Ainda o pastel de óleo

Andei a fazer pesquisas sobre pintores e parece que muitos usam ou usaram o pastel de óleo ou o seco para fazerem grandes obras de arte. Esta informação vem a propósito. Custa a acreditar que o material usado tenha sido esse, mas foi.

Não gosto de Paula Rego, aflige-me, mas aqui ficam duas pinturas muito conhecidas dela em pastel.
























Também descobri um quadro que fiz já na Utopia e que lá deixei, nunca mais me lembrei dele e não o trouxe porque era muito grande,  até que vi a foto aqui no blogue em 2010.
Este meu quadro foi apreciado no atelier onde muitas pessoas nunca tinham usado este material.



terça-feira, 8 de maio de 2012

Pastel de óleo - material maravilhoso





Usei-o durante muito tempo, nos primórdios da minha iniciação à pintura.

Uma tarde, entrei no atelier aqui junto à minha casa  para a aula e disse ao meu professor que estava cansada de acrílico e que gostava de experimentar outro material. Comprei na altura uma caixinha de 12 lápis de pastel de óleo, que, ao aplicar, parece tinta, com uma maleabilidade extraordinária e possibilidades infinitas.
Andei meses entusiasmada com esse material, comprei caixas Sennelier em Boston, onde fui duas vezes, mandei vir outra de Paris e da Bélgica pelo meu filho. Tenho aqui um arsenal enorme de pasteis, que há muito não uso e é pena porque os efeitos são magníficos.

Pintar a pastel tem a desvantagem de tudo ser feito em papel adequado e depois levar moldura, como as aguarelas. A moldura abaixo foi caríssima, mas também uma das únicas que mandei fazer pelo atelier.

Este quadro grande foi inspirado na fotografia duma revista de artes francesa, que um colega meu me emprestou. Ele fazia muitas aguarelas e comprava as revistas mais modernas que apareciam aqui no Porto. Os meus melhores quadros da 1ª fase foram inspiradas nessas fotografias. Levavam dias e dias a completar, não é como o acrílico que se pinta num dia e desfaz no outro:)
Este foi todo feito em casa por ser enorme, tem 70x60, creio eu e exigir uma mesa grande.  A foto não está boa,  tem reflexos por causa do vidro, mas os cambiantes de azuis, castanhos e verdes são infinitos.
Trabalhei na sala, para mal do meu tapete que apanhou umas manchas difíceis de limpar. O pastel de óleo é gorduroso e suja tudo, o acrílico sai com água e uma escova. Este não.
Durante mais de um ano o quadro esteve por cima do piano do meu filho, mas ele depois enamorou-se dos abstractos que eu tinha apresentado na exposição e pediu-me quatro que ficam lá muito bem e tem sido muito apreciados.


Exponho aqui alguns dos quadros que fiz nesse material a título de curiosidade. Alguns deles ofereci aos meus irmãos e sobrinhos, muitos estão numa pasta à espera de melhores dias:)

6 da manhã

Já ando por aqui há uma hora. Inquietação, insónia, dores de alma e do corpo...não tenho sono...só dormi três horas...mas parece que chegou.Lá fora, nevoeiro cerrado ou chuva nem se percebe bem, só se vêem os contornos das árvores e o céu está negro. Daqui parece a Amazónia tropical:).
Os passarinhos chilreiam apesar do tempo agreste e triste. Felizmente há chilreios, mesmo na madrugada mais escura.

Passam carros de quando em vez fazendo travagens bruscas junto aos semáforos. Maldita pressa...porque será que mesmo quando não têm pressa, os portugueses não conseguem esperar num semáforo, numa fila do talho ou do supermercado?
Por vezes via-as na Ramada Alta a discutir pela sua vez na padaria ou confeitaria para depois irem conversar durante horas no café da esquina ou na farmácia. Povinho mais triste. Nasce cansado, vive sem chama, trabalha sem alma.



É nestes dias que tenho pena de não morar perto do mar. Vestia um fato de treino e um casacão e ia passear para a praia, inebriar-me com o cheiro da maresia, sentar-me a tomar um café mal abrissem e depois talvez dormisse melhor toda a manhã.


Os próprios ateliers são uma memória agradável, mas já não seria capaz de estar duas horas a pintar, rodeada de pessoas, por muito simpáticas que fossem, nem de conversar sobre assuntos banais durante horas. Canso-me facilmente do que não me atrai. Prefiro o meu cantinho aqui no silêncio das árvores e das gaivotas. Só vejo coisas belas. Não vejo pessoas. Eu sei. Hoje estou em dia não. Saudades, ânsia, falta da minha filha, desejo de a abraçar e partir.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Chove, chove, chove

Não há fome que não dê em fartura....

Cai chuva há horas e não se vislumbra nesga de sol, um céu carregado e um vento inquietante que faz dançar todos estes ramos lindíssimos que ainda agora se encheram de folhagem fresca.
Porque será que a chuva nos pôe tristonhos ou depressivos?
No fundo ela é excelente para a terra, para as plantas, para a agricultura, para encher as barragens, para limpar os polens e ácaros que nos molestam, para lavar o ar e tornar tudo mais claro e nítido.

O problema é o trânsito que se torna perigoso e moroso, os sapatos que se encharcam, o peso dos chapéus de chuva , que ainda por cima volta e meia resolvem dançar com a ventania, o chão encharcado, a relva escorregadia, as poças que nos salpicam sem dó nem piedade...

A vida é assim....tudo  tem os seus prós e contras...


Em tempos pintei um quadro baseado numa foto tirada por uma amiga minha do Woophy. Ela tinha fotografado um homem a olhar para o mar, resolvi mudar o sexo do figurante e aligeirar um pouco o céu toldado. O meu professor na altura - em Janeiro de 2009 - disse-me, com um sorriso, que se alguém se descuidasse poderia escorregar naquele piso molhado:)

Ainda tenho aqui o quadro, nunca o dei à Malice, a fotógrafa, nem sequer foi para exposição. Mas gosto muito do original.

domingo, 6 de maio de 2012

Dia da Mãe na Invicta


As Mães são muitas vezes o centro e o baluarte da família.
Eram-no, sobretudo, no tempo em que os Pais, cabeças de casal tinham por missão sair de casa,   ganhar dinheiro, assumir uma posição e status que permitisse à família uma qualidade de vida condigna, a educação dos filhos e uma harmonia muitas vezes fictícia. As Mães viviam na sombra, mas eram elas que faziam girar a roda da família, sacrificando-se muitas vezes para bem dos filhos e mantendo-se fiéis aos princípios da maternidade e da conjugalidade, como se outra alternativa não houvera.

Quando casei, não o fiz pela Igreja para grande frustração do meu Pai. Era a primeira filha a dar um grito de de independência, eu que tinha sido sempre tão crente, tão fiel aos princípios, tão activista.
O meu futuro marido não queria casar pela Igreja e eu submeti-me à vontade dele. Nunca me arrependi muito disso, embora como todas as mulheres, sonhasse com uma entrada e saída down the aisle em beleza.

Esse sonho não era tão importante como o meu amor por ele e sobretudo, a minha submissão à sua vontade.


O meu filho mais velho, em contrapartida, fez tudo aquilo que eu quereria ter feito. O seu casamento na Igreja da Lapa foi das cerimónias mais belas a que assisti, com o Coro da Sé a cantar a Missa de Mozart , um organista alemão amigo dele a tocar o belo órgão da igreja e ainda om leituras escolhidas e lidas por familiares.
Um dia belo, lindo e sobretudo, muito feliz.

Hoje, este meu filho achou que tinha de  festejar o Dia da Mãe, levando-me e aos filhos a Gaia para almoçar no restaurante indiano, onde eu não ia há mais de um ano.

Soube-me bem, sobretudo pela refeição, a calma e a bela vista que dai se alcança. Os meninos portaram-se bem, comendo aquilo que gostam mais, os papadoms , o Nan e o Chicken Tikka Masala, que não pica tanto. Os meus dois filhos estavam ali comigo. Foi bonito.

Aproveitei para tirar fotos daquelas que toda a gente tira a esta bela cidade, que, nestes dias nublados parece ganhar ainda mais esplendor granítico, a sua skyline recortando-se em torres e torrinhas sobre o tal casario de que fala o nosso" Rui Veloso.



Aqui fica a canção que nunca cansa:





A família e a Invicta

As Mães são muitas vezes o centro e o baluarte da família.

Eram-no, sobretudo, no tempo em que os Pais, cabeças de casal tinham por missão ganhar dinheiro, assumir uma posição e status que permitisse à família uma qualidade de vida condigna, a educação dos filhos e uma harmonia muitas vezes fictícia. As Mães viviam na sombra, mas eram elas que faziam girar a roda da família, sacrificando-se muitas vezes para bem dos filhos e mantendo-se fiéis aos princípios da maternidade e da conjugalidade, como se outra alternativa não houvera.

Quando casei, não o fiz pela Igreja para grande escandalo do meu Pai. Era a primeira filha a dar uma de independência, eu que tinha sido sempre tão crente e mesmo praticante. O meu futuro marido não queria casar pela Igreja e eu submeti-me à vontade dele. Nunca me arrependi muito disso, embora como todas as mulheres tivesse sonhado com uma entrada e saída down the aisle em beleza.

O meu filho, em contrapartida, fez tudo aquilo que eu quereria ter feito. O seu casamento na Lapa foi das cerimónias mais belas que assisti, com o Coro da Sé e um organista amigo dele alemão a tocar o belo órgão da igreja. Um dia belo, lindo e sobretudo, muito feliz.

Hoje, esete meu filho achou que tinha de  festejar o Dia da Mãe, levando-me e aos filhos a Gaia almoçar no restaurante indiano, onde não ia há mais de um ano. Soube-me bem sobretudo pela bela vista que dai se alcança. Os meninos portaram-se bem, comendo aquilo que gostam mais, os papadoms , o Nan e Chicken Tikka Masala, que não pica tanto. Os meus dois filhos estavam ali comigo. Foi bonito.
Aproveitei para tirar fotos daquelas que toda a gente tira a esta bela cidade, que , nestes dias nublados parece ganhar ainda mais esplendor granítico, a sua skyline recortando-se em torres e casinhas, o tal casario de que fala o nosso Rui Veloso.
Aqui fica a canção:


 

Para as Mães