sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A velhice

Oiço um programa em que se fala de velhice, do apoio aos idosos ( palavra que detesto), de call centers para onde eles possam ligar em caso de necessidade, visitas domiciliárias para os que estão sós e outra medidas de cuidados paliativos organizados pela paróquia de Arroios em Lisboa.É sempre louvável ver que há quem se preocupe com isso.

Terá sido coincidência, ainda hoje estava na cama, no rescaldo da minha curta doença em que cheguei aos 39,7 de febre, coisa que não me acontecia há anos, e pensei em escrever algo sobre a velhice, vindo-me à memória a minha casa de família, onde a velhice dos meus avós era algo respeitável, doce e indispensável para que todos nos sentíssemos bem. Nós adorávamos os nossos Avós. E não falo só de mim.
O meu Avô faleceu em 1963 e a minha Avó em 1992. Ela sobreviveu-lhe trinta anos, pois ele era 17 anos mais velho.
Eram um par fantástico,
ainda que houvesse da parte dela grande submissão e respeito por um homem que tinha combatido na 1ªGG, viajado por todo o mundo, médico da Marinha, antropólogo e Secretário-Geral da Sociedade de Geografia de Lisboa.
A sua personalidade era fortíssima e muito especial. A minha Avó era doce, culta e inteligente, a pessoa mais bonita e paciente que
conheci, mesmo nos últimos anos de vida, em que devia sofrer bastante, nunca perdeu o sorriso, o olhar meigo.

A minha Mãe tinha um quadrinho na saleta escrito em francês que começava assim:

La jeunesse n’est pas une période de la vie,
elle est un état d’esprit, un effet de la volonté,
une qualité de l’imagination, une intensité émotive,
une victoire du courage sur la timidité,
du goût de l’aventure sur l’amour du confort.

On ne devient pas vieux pour avoir vécu un certain nombre d’années :
on devient vieux parce qu’on a déserté son idéal.
Les années rident la peau ; renoncer à son idéal ride l’âme.
Les préoccupations, les doutes, les craintes et les désespoirs
sont les ennemis qui, lentement, nous font pencher vers la terre
et devenir poussière avant la mort.

Jeune est celui qui s’étonne et s’émerveille. Il demande
comme l’enfant insatiable : Et après ? Il défie les événements
et trouve de la joie au jeu de la vie.

Vous êtes aussi jeune que votre foi. Aussi vieux que votre doute.
Aussi jeune que votre confiance en vous-même.
Aussi jeune que votre espoir. Aussi vieux que votre abattement.

Vous resterez jeune tant que vous resterez réceptif.
Réceptif à ce qui est beau, bon et grand. Réceptif aux messages
de la nature, de l’homme et de l’infini.

Si un jour, votre coeur allait être mordu par le pessimisme
et rongé par le cynisme, puisse Dieu avoir pitié de votre âme de vieillard.



Général Mac Arthur 1945

E sobre o mesmo tema, não posso esquecer a canção maravilhosa de Jacques Brel : Les Vieux, que me faz chorar sempre.

A velhice

Oiço um programa em que se fala de velhice, do apoio aos idosos ( palavra que detesto), de call centers para onde eles possam ligar em caso de necessidade, visitas domiciliárias para os que estão sós e outra medidas de cuidados paliativos organizados pela paróquia de Arroios em Lisboa.É sempre louvável ver que há quem se preocupe com isso.

Terá sido coincidência, ainda hoje estava na cama, no rescaldo da minha curta doença em que cheguei aos 39,7 de febre, coisa que não me acontecia há anos, e pensei em escrever algo sobre a velhice, vindo-me à memória a minha casa de família, onde a velhice dos meus avós era algo respeitável, doce e indispensável para que todos nos sentíssemos bem. Nós adorávamos os nossos Avós. E não falo só de mim.
O meu Avô faleceu em 1963 e a minha Avó em 1992. Ela sobreviveu-lhe trinta anos, pois ele era 17 anos mais velho.
Eram um par fantástico, ainda que houvesse da parte dela submissão e respeito por um homem que tinha estado na 1ªGG, viajado por todo o mundo, médico da Marinha, antropólogo e Secretário-Geral da Sociedade de Geografia de Lisboa. A sua personalidade era fortíssima e muito especial. A minha Avó era doce e inteligente, a pessoa mais paciente que conheci na minha vida, mesmo nos últimos anos de vida, em que devia sofrer bastante, nunca perdeu o sorriso, o olhar meigo.

A minha Mãe tinha um quadrinho na saleta escrito em francês que começava assim:

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

José Afonso - (1929-1987)

Faleceu faz hoje vinte e cinco anos.

As suas canções abalaram este país durante o período da Revolução, o Povo identificou-se com elas, com a revolta expressa em melodias harmoniosas e numa voz de timbre inegualável.
Vi-o actuar antes do 25/4 na Figueira da Foz e comprei todos os seus albuns que foram minha companhia durante os anos de estudo universitários. O meu namorado - depois marido - estudava em Coimbra e o seu ídolo era Adriano Correia de Oliveira, mas eu mantive-me sempre fiel a Zeca Afonso. O seu album Traz outro Amigo Também , que me foi oferecido, deve ter sido ouvido mais de uma centena de vezes.
A conotação de Zeca Afonso com o partido comunista, a apropriação deste do espólio do cantor fizeram com que a magia se perdesse em parte. Compreende-se a politização dum ícone cultural, arauto da liberdade
para fins revolucionários, mas, na minha opinião, Zeca Afonso foi e será sempre universal, português, uma Voz que compôe melodias populares oriundas das raízes mais profundas da nossa terra.

Ficam aqui as minhas preferidas entre tantas que gosto:





José Afonso - o Homem, o Poeta, o Cantor

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Bleu, bleu....l'amour est bleu

Havia uma canção assim nos anos 60, muito suave e bonita.

O quadro que fiz ontem traduz essa sensação: beleza táctil, jogo de azuis e verdes, sugestão floral. É repousante.


Mais um poema de Sophia:, que traduz os sentimentos expressos nesta pintura.

Quando brilhou a aurora,
dissolveram-se
Entre a luz as florestas encantadas,
Arvoredos azuis e sombras verdes,
Como os astros da noite embranqueceram
Através da verdade da manhã.
E encontrei um país de areia e sol,
Plano, deserto, nu e sem caminhos,
Aí, ante a manhã, quebrado o encanto,
Não fui sol nem céu nem areal,
Fui só o meu olhar e o meu desejo,
Tinha a alma a cantar e os membros leves
E ouvia no silêncio os meus passos.
Caminhei na manhã eternamente.
O sol encheu o céu, foi meio-dia,
Branco, a pique, sobre as coisas mortas,
Mais adiante encontrei a tarde líquida,
A tarde leve, cheia de distâncias,
Escorrendo de céus azuis e fundos
Onde as nuvens se vão pra outros mundos.
Um ponto apareceu no horizonte,
Verde nos areais, como um sinal.
Era um lago entre calmos arvoredos.
Não bebi a sua água nem beijei
O homem que dormia junto às margens
E ao encontro da noite caminhei.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A brutalidade dos media

Tenho estado muito por casa e de vez em quando oiço noticiários das 13 ou das 20, sempre com um olho noutras coisas que vou fazendo.

Cada vez me choca mais a selecção de notícias que vão sendo dadas com uma ligeireza e uma
leviandade a todos os títulos reprováveis. Penso nalgumas crianças que possam estar junto aos pais - já nem falo das que estão sozinhas porque essas provavelmente estão a jogar jogos no computador ou a brincar na rua - e assistam ao verdadeiro lavar de roupa suja que são os nossos telejornais.
Crime, crime e mais crime, com comentários duvidosos de senhores que se julgam donos da verdade ( já não posso ver a cara do bastonário da O. dos Advogados,
ouvir as suas diatribes contra os juizes, o homem deve ter um trauma qualquer pelo facto de o não ser), entrevistas com o mulherio à volta dos tribunais, os berros histéricos das multidões, justiça feita pelo povo sem qualquer espécie de racionalidade; a política, enfatizada ou
enxovalhada, agoniante e sempre repetitiva, com as mesmas imagens transmitidas até à exaustão, comentários de personalidades que não têm mais nada que fazer senão falar por falar ; o futebol, esmiuçado até ao tutano com mil e uns pormenores dos bastidores da bola, miséria intelectual, tricas e baldrocas, corrupção, uma vergonha no écran. É isto que nos dão todos os dias....em cinco canais noticiosos.

O que me choca mais é que há maravilhas e milagres da Natureza e da Ciência
que se estão a desenrolar todos os dias, há jovens a inventar, a criar, e ainda a tentar vencer neste país que os repele. Há cientistas excelentes a realizar milagres, médicos a trabalhar em condições péssimas, voluntários a dar tudo o que têm, escolas com projectos fabulosos, artistas a pintar, a tocar, a interpretar, a dançar...e tudo isto é ignorado por esses senhores dos media, estúpidos demais para ver que numa hora e meia destroem quase tudo o que se tenta construir
neste miserável ( mas belo) país.

É demais!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sonhos e leituras

Hoje sonhei com um lugar magnífico e pela primeira vez, desde há muito, eu era feliz no sonho...estava acompanhada, não me lembro de pormenores, mas sentia-me calma e em paz.
Nos sonhos é raro sentir-me assim, encontro-me sempre em situações difíceis com pessoas da minha família ou da escola, que me exigem algo que não consigo dar. Acordo sempre com alívio por saber que nada daquilo é real e que , estando sozinha, nada me pode acontecer e ninguém me pode exigir nada...Freud teria certamente uma resposta para isto.
Hoje à hora de almoço estive na varanda ao sol...
ouvi música e olhei em volta o arvoredo nu, contra o céu tão azul que até parece de porcelana. Não ouvi o telemóvel, o meu filho mais novo queria ir almoçar comigo, mas quando dei por ela, já ele estava em sua casa e queria trabalhar...:(

Fiquei triste e resolvi ler poesia. Ontem li praticamente um romance inteiro. Comecei a lê-lo por curiosidade e depois interessou-me saber mais, acabei por lê-lo de fio a pavio, o que me não acontecia há meses, desde que li o Na kontra Ka kontra de Fernando Gouveia ou o Jesusalém de Mia Couto. O romance que li ontem está mal escrito e é demasiado leve, mas acabou por me interessar por se passar nas décadas em que mais vivi a Vida - 60 e 70 - e descrever episódios da sociedade de então que bem conheci. É de Julio Magalhães, o da TVI
e chama-se Um Amor
em Tempo de Guerra
( nome duma série inglesa que era fantástica). Acaba bem e deixa uma sensação de feel good que talvez me tenha animado, daí ter sonhado com algo tão belo.

Hoje encontrei um site só com poesia de Sophia.É um livro electrónico.
Registando-nos no site temos acesso a mais e-books. Nunca tinha experimentado nada no género e achei fantástico com uma pintura muito sugestiva.

Destaco um poema dela que me diz bastante, embora já não sinta esta angústia há muito:

CIDADE

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.


Sophia de Mello Breyner Andresen

A leitura

Hoje sonhei com um lugar magnífico e pela primeira vez, desde há muito, eu era feliz no sonho...estava acompanhada, não me lembro de pormenores, mas sentia-me calma e em paz. Nos sonhos é raro sentir-me assim, encontro-me sempre em situações difíceis com pessoas da minha família ou da escola, que me exigem algo que não consigo dar. Acordo sempre com alívio por saber que nada daquilo é real e que , estando sozinha, nada me pode acontecer e ninguém me pode exigir nada...Freud teria certamente uma resposta para isto.
Hoje à hora de almoço estive na varanda ao sol...
ouvi música e olhei em volta o arvoredo nu, contra o céu tão azul que até parece de porcelana. Não ouvi o telemóvel, o meu filho mais novo queria ir almoçar comigo, mas quando dei por ela, já ele estava em sua casa e queria trabalhar...:(

Fiquei triste e resolvi ler poesia. Ontem li praticamente um romance inteiro. Comecei a lê-lo por curiosidade e depois interessou-me saber mais, acabei por lê-lo de fio a pavio, o que me não acontecia há meses, desde que li o Na kontra Ka kontra de Fernando Gouveia ou o Jesusalém de Mia Couto. O romance que li ontem está mal escrito e é demasiado leve, mas acabou por me interessar por se passar nas décadas em que mais vivi a Vida - 60 e 70 - e descrever episódios da sociedade de então que bem conheci. É de Julio Magalhães, o da TVI
e chama-se Um Amor
em Tempo de Guerra
( nome duma série inglesa que era fantástica). Acaba bem e deixa uma sensação de feel good que talvez me tenha animado, daí ter sonhado com algo tão belo.

Hoje encontrei um site só com poesia de Sophia.É um livro electrónico.
Registando-nos no site temos acesso a mais e-books. Nunca tinha experimentado nada no género e achei fantástico com uma pintura muito sugestiva.

Destaco um poema dela: