sábado, 21 de janeiro de 2012

Primavera precoce

Temperaturas primaveris, sol radioso e quente, vento calmo, mar com ondas regulares, o ideal para se passarem momentos divinais na Foz.

Saó pelas 12.30, apanhei o autocarro quase logo - este ia vazio - e saí na Rua do Farol, que já me conhece dos fins de semana. Desci até à marginal, onde não se via quase ninguém. Deviam estar a almoçar, pois duas horas depois o café encheu-se. Ocupei uma das deck-chairs junto à rede e perdi-me em contemplação.

Tirei algumas fotos , poucas, desenhei durante um pedaço, olhei as ondas que se desdobravam de encontro à "minha rocha" sem grande violência , mas com muita espuma. Não havia navios à vista, nem surfistas...algumas gaivotas,
poucas.
Uma paz quase celestial...música do meu Ipod que variou entre Carlos Paredes, sempre vibrante, John Denver, o melhor cantor de música country que conheci e Joe Dassin, cujas canções me fazem chorar...

Não sei porque bambúrrio da sorte me é oferecido um dia assim, sem stress, sem telemóveis ( esqueci-me do dito cujo e foi uma benção), sem música pimba, sem horas...se mereço, não sei. Só sei que o aproveito até à última gota.

Venho embora quando o resto do pessoal está a vir. Passo pela confeitaria a comprar pão e bolo-rei, que vou comer ao chá...e ainda pelo chinês a trazer umas telas quadradas que só lá encontro.
Na paragem não há ninguém. O autocarro chega logo e nele só vão umas três pessoas. Ainda estou naquele modo meio zombie, não quero barulho, nem zangas,nem gritos, nem buzinas...quero continuar a viver o meu sábado como se não houvesse mais nada.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Fuga aos tons pálidos

Hoje sentei-me à mesa no atelier diante da tela branca de neve e cobri-a toda dum tom verde clarinho que gosto muito. Dele já não resta nada ...cobri-a aos poucos de roxos laranjas, amarelos em tons fortes e quentes - devia estar com frio - uma floresta abstracta mirando-se num lago meio fantasmagórico...foi o que saiu.

Se gosto dela? Está um pouco expressionista para meu gosto, mas é pequenina e vou guardá-la assim...




Sujeito-me às críticas. Gosto delas.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

António Cruz - ( 1907-1982)

Ouvi falar deste pintor pela primeira vez quando frequentava a Paleta, o atelier onde aprendi a pintar. A senhora que dirigia o espaço era ela própria pintora de aguarelas, embora sem qualquer espécie de curso, pintava por intuição e sabia manejar o óleo com grande arte, tendo inúmeras obras espalhadas pelo atelier, à venda ou só para serem vistas e decorar as salas. Foi uma pessoa que muito me influenciou e incentivou a pintar. Inclusivé, ofereceu-me uma aguarela de que gosto muito.
Perdia-a de vista quando o marido faleceu e ela resolveu fechar a Paleta para grande desgosto meu. Encontrei-a no outro dia, aqui na rua, por acaso e soube que está a frequentar a Universidade Católica, o que considero um acto de coragem para uma pessoa já de certa idade. O seu talento bem merece qualquer apoio.

Hoje, depois de almoçar com o meu ex-, passei num alfarrabista que estava a saldar livros vários. Apontei para um livro do centenário de António Cruz, um aguarelista fabuloso, desconhecido de muitos connaisseurs de Arte, filho do Porto e um artista excepcional, reconhecido já tarde. A capa era indescritível, uma aguarela em tons de azuis sugerindo o Douro e a cidade.
O livro era caro, mas estava com 50% e o meu ex- ofereceu-mo. Sâo prendas destas, inesperadas que eu adoro!
Tenho estado a ler e a folhear a obra de A. Cruz e pasmo como é que pintores como este passam quase despercebidos em vida. Têm de lutar muito para seguir a sua veia artística e nem sempre lhes reconhecem talento.
São muitas as vozes sonoras que falam dele neste livro, mas não muitos os que verdadeiramente o apoiaram, organizando exposições ou convidando-o para concursos de pintura.Era uma pessoa modesta, singular, introvertida, com uma enorme família ( cinco filhos), que hoje nos surpreende com a sua capacidade para captar e pintar a cidade do Porto, aquilo que se vê e sobretudo, o que nos escapa.
. Estas aguarelas falam por si.

Diz António Cruz:

Adoro o nevoeiro. Das quatro estações do ano, a que me fala,
a que me dá vida interior, um entusiasmo enorme pela vida
é o Inverno!
E agora como se explica isto? Os indivíduos que são de
temperamento nórdico só se querem ver dentro do nevoeiro,
só querem e adoram
a chuva, a chuva miudinha ou a bruma. O Inverno é a minha estação.
É no Inverno que eu sinto a minha felicidade.
A humidade nos rebocos das construções exacerba as cores.
Esse rosa-venise, o ocre dourado e todas as cores, até o branco,
ganham esta patine, está aqui, está a ver esta parede, isto é uma
pintura, é um quadro, nem precisa de moldura...
Sabe que o Porto é uma cidade para pintores.


Manoel de Oliveira dedicou-lhe um pequeno documentário em 1956: O Pintor e a Cidade, que vos deixo aqui:

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

E as aguarelas....continuam

Ontem o pôr do sol estava de tal modo irreal que fui buscar a Leica acabada de arranjar e tirei fotos daqui da varanda. Tirei com o modo noite e ficaram tal qual, talvez um pouco mais escuras do que a realidade.

Hoje estive a tentar uma outra tela tipo aguarela....embora use acrílico em vez de papel e godés de aguarelas. O segredo está na água e na quantidade de tinta,que tem de ser muito pouca. O pincel tem de ser fino nalgumas situações. A tela não faz o mesmo efeito do papel, não se pode deixar branco à vista, mas por outro lado absorve melhor a tinta e fica baça como as aguarelas verdadeiras.
Para variar é uma paisagem anónima, daquelas que gostaríamos de contemplar todos os dias num intervalo da nossa vida citadina . Amiúde gostaríamos de sair do filme de acção para um costum drama, como lhes chamam os ingleses.

Na ausência de viagens reais, perdemo-nos no labirinto do imaginário...já não é mau.

O mar

Há tempos o meu irmão seduziu-me com a ideia de fazermos em conjunto um livro ou album com pinturas minhas e poemas ou textos dele sobre o mar.

É um daqueles temas que nunca recusaria. É-me imperioso ligar a existência do mar à minha própria existência como pessoa criativa.
Adoro o mar, necessito dele quase como de oxigénio, não consigo viver longe dele, sinto-me bem a olhar para as ondas incansáveis, para os navios ao fundo, os surfistas, as crianças na areia, as gaivotas sentadas nas rochas, e adoro contemplar o brilho do sol na superfície azulada, verde ou cinzenta do oceano.

Tenho muitas pinturas sobre o mar - cerca de 40. Foi fácil arranjar um conjunto que se adaptasse aos poemas. Mais difícil foi fazer as fotografias em alta definição, mas consegui realizar isto tudo em dois dias.

A minha Leica entretanto tinha-me pregado um susto, pois não estava a funcionar. Hoje levei-a a uma casa que me aconselharam perto do Rivoli e um senhor muito prestável conseguiu o milagre de desbloquear a lente que tinha encalhado e não abria. Foi um alívio...

Aqui vão três pinturas sobre o mar.
Poemas não ponho pois não sei se o meu irmão gostaria que eu abrisse mais o véu. Mas o livrinho não tarda...só para mais tarde recordar...

domingo, 15 de janeiro de 2012

O desenho

É curioso que nunca na vida achei que tivesse algum jeito para desenho, mas ultimamente, de vez em quando pego num bloquinho que tenho e desenho o que vejo, tentando ser original e não fazer fotocópia. Já uma vez pintei a cara do meu neto mais velho e o meu prof disse que não estava nada mal, a não ser a posição do pescoço. Depois disso poucas vezes desenhei aquilo que pinto.
Hoje , antes de pintar o quadro do inverno, resolvi desenhar o que via da janela a lápis de carvão e o resultado satisfez-me bastante. Lembrei-me de Van Gogh ( sou modesta!!!) que tem cartas imensas para o seu irmão Theo com os esboços a lápis de pinturas que depois ele enche de cor e vivacidade.

Gosto muito de desenhos a negro e vou tentar aperfeiçoar-me, usando um livro que a minha cunhada me deu há dois anos e que é mesmo para esse fim.

Aqui fica o esboço que hoje fiz:

O inverno

Hoje chegou para mim o inverno.

Os meus meninos chegaram e quiseram logo ir para o Botânico com a Avó. Tinha estado a pintar e a ouvir música barroca com um novo aparelhometro que o meu filho me ofereceu e que possibilita ouvir-se o IPOD alto e bom som. É excelente para quando estou a pintar e soube-me bem ter música no atelier.


resolvi usar o acrílico como se fosse aguarela e resultou ( na minha opinião, claro). A tela estava um pouco húmida , de modo que o efeito é muito semelhante. Pintei as árvores que vejo da janela do atelier e que estão parcialmente despidas agora.

Não ficou muito mal. Vai aqui com a música que ouvi.