quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Anna Karenina

Fui ver.
Era a primeira sessão de estreia dum filme do qual esperava muito, dado que o realizador de Atonement e Pride and Prejudice, Joe Wright, não me é estranho, nem  o compositor Dario Marinelli um desconhecido.

Uma história de paixão sem ela. Performances que não entram no  nosso sistema, que não nos comovem, como comoveram noutros filmes. Não há aqui a Lara de Doutor Jivago, nem a Natasha de Guerra e Paz, nem sequer a infeliz Cecilia de Expiação.
Keira Knightley não respira nem transpira a Anna de Tolstoi. Não consegue ser dramática, nem infeliz.












Os cenários são originais, embora sem a grandiosidade , nem a vastidão das planícies russas, a música é envolvente,  há pessoas, olhares e vestuário sumptuoso, mas falta qualquer coisa - uma chama - que nos empolgue, que nos faça sofrer, alguma paixão ardente nos olhos dos amantes, lágrimas convincentes, ódios e conflito.





Fica aqui a crítica de Jorge Mourinha do Publico, com quem concordo plenamente desta vez.

 Um filme a ver, mas não a rever, na minha opinião.


Para esse efeito, Stoppard e Wright conceberam um dispositivo cenográfico ambientado num teatro do século XIX, cenário único e polivalente que se transforma de repartição em restaurante, de rua moscovita em palácio rural. A metáfora não é original - a sociedade como teatro onde cada um tem um papel a cumprir, com os escassos exteriores representando a liberdade que os homens (legisladores, maridos, pais) ainda vão conseguindo impor - mas é eficazmente traduzida em cinema, sobretudo através da fluidez coreográfica com que tudo decorre. Já sabíamos do gosto de Wright por panorâmicas vistosas, a natureza de estúdio do projecto permite-lhe levar esse gosto a um limite, com a câmara a ser tão virtuosa como as danças estilizadas que pontuam o filme. Se, no entanto, o dispositivo não trai o espírito nem a multi-dimensionalidade de Tolstoi, corre o risco de tombar no decorativismo e introduz um distanciamento que exige uma entrega total do actor para injectar a humanidade que a cenografia por si só não consegue. E é aí que Anna Karenina se perde - não porque os actores sejam maus, mas porque Keira Knightley e Aaron Taylor-Johnson são erros de casting, sem conseguir emprestar a Anna e Vronsky a experiência nem a gravidade que os papéis exigem, e o Karenin melancólico de Jude Law ou o Levin na mouche de Domhnall Gleeson não chegam para compensar. É, então, pena que seja ao deslumbrante decorativismo da produção visual que Anna Karenina se resuma, sem que as portas intrigantes que abre sejam inteiramente exploradas.