quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Embalada pelo piano

O meu filho encontrou em casa duma das minhas irmãs uma relíquia familiar, que colocou no Facebook e nos comoveu a todos, sobretudo aos que conheceram os meus avós, o casal mais original, mais carismático ( para mim) e mais carinhoso que jamais conhecerei.

Já aqui falei dos meus antepassados, sempre com orgulho; talvez a distância e a poeira do tempo me façam embelezar o quadro familiar, esfumando as neblinas que tenham porventura existido. Há muito que as saudades me impedem de ser racional. Vejo tudo cor de rosa.






Esta dedicatória que aqui vêem foi escrita, em 1927, pelo meu Avô numa partitura que  ofereceu à minha Avó, recordando os belos momentos em que a ouvira tocar "divinamente" aos 17 anos na saleta à meia-luz. Casaram dois anos depois.

O meu Avô tinha mais 17 anos que ela, mas ninguém reparava nisso, tal era a sua juventude de espírito, alegria de viver e encanto pessoal. Ele era o que se chama uma "força da Natureza" e talvez a pessoa que mais me influenciou em toda a minha vida, embora tenha falecido tinha eu 17 anos. Amava-nos a todos, conhecía-nos melhor do que nós próprios, escreveu os nossos perfis com uma clarividência espantosa, Ainda hoje me impressiono quando leio certa coisas que escreveu e vejo como éramos importantes para ele.

Não sei se este Arabesque é o de Debussy,  uma das peças que o meu filho toca no piano a meu pedido, pois a minha Mãe constumava tocá-lo depois de almoço, quando se sentava ao piano, há mais de 40 anos...um peça lindíssima, que me faz vir as lágrimas aos olhos.

Oiço Baremboim a tocar Liszt, os dedos sobre as teclas e penso na sorte que tive - e ainda tenho de nunca ter estado longe dum piano e de alguém que o tocasse.