quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Em casa da Avó

Passar de autora dum manual escolar ao estatuto de Avó em 20 minutos tem que se lhe diga.

Ainda os chips estão sincronizados para a pedagogia, para as fórmulas e os skills da língua inglesa e já temos de os formatar para se tornarem meigos, pacientes e netos-friendly.... e, sobretudo, aptos a ouvir as coisas mais pândegas e inesperadas do mundo.

Vir a casa da Avó já se tornou um hábito para eles à 4ª feira , mas gosto de lhes oferecer algo diferente. Hoje fiz panquecas. Estão ali à espera que eles venham, muito douradinhas e mesmo apetitosas. Vou tirar umas fotos! Para acreditarem que não estou a inventar!

Ui, já aqui estão. Com as mochilas, os casacos, as sapatilhas....a minha entrada parece o Banco Alimentar de roupas e objectos escolares!

Lancham bem, mas um deles prefere uma laranja à panqueca e o outro quer antes um pão seco, que lhe sabe a pouco. Só o mais velho come três panquecas com compota e mais comeria, se eu deixasse.



E agora depois de lancharem, há que entrar em "modo de persuasão" para que a TV desapareça e só surja à luz do dia ( ou da noite!) daqui a meia hora ... se não os pais queixam-se de a Avó usar a  TV como babysitter...não, a Avó tem de ter paciência por inerência do cargo.

 Joga-se ao scrabble com o neto do meio ( sete anos), que quer escrever palavras inventadas por ele - com ç e o diabo a quatro -  e fica piurso quando digo que essas palavras não existem. Amua e diz-me baixinho: Estás a ficar velha! Agora é a minha vez de ficar piursa!! 

 Este meu neto tem o condão de dizer o que não deve e o meu drama é que herdou  essa qualidade (?) para além dos traços físicos, desta Avó.
Muita gaffe cometi quando era miúda e muito ralhete apanhei por isso. Digo-lhe que não me importo nada de envelhecer e que os meninos não devem dizer essas coisas às pessoas mais velhas porque elas ficam tristes. Será que entendeu? Duvido!

Umas palavras depois, inventadas ou não, arruma-se o Scrabble e finalmente podem ver TV. Calados como ratos, só se ouve o barulho irritante dos bonecos animados, qual deles mais palerma e mais deseducativo. O que vale é que dura pouco...

O mais novo que tem três anos quer vir para o meu colo e eu conto-lhe a história do Capuchinho Vermelho. Fica feliz e ouve-me com atenção. Quando acaba, pergunto-lhe: Queres que te conte a do Lobo e dos Sete cabritinhos? Responde que não: Não, vóvó, essa é quase igual à do Capuchinho!

E não é que é mesmo?

A verdade está na boca das crianças;-).