sexta-feira, 11 de março de 2011

Concertos

Como recompensa de um dia bastante atribulado, cheio de peripécias e sobressaltos daqueles que não se comparam nem numa milionésima de hipóteses com o que os Japoneses estão a sofrer neste momento, depois dum tsunami e abalo de terra colossais, resolvi sentar-me e tentar o MEZZO.

JACKPOT! Um concerto tocado pela melhor pianista do mundo, na minha modesta opinião: Martha Argerich
: Concerto de Schumann em lá menor, opus 64, para piano, o único dele para esse instrumento, maravilhoso e romântico, deixa-nos a sonhar e a desejar mais e mais.

Ouvi este concerto tocado pelo nosso Pedro Burmester ainda na Igreja de são Bento da Vitória, quando não havia Casa da Música, e eu conhecia alguns dos executantes da orquestra do Porto - nessa altura Regie Symphonie, que eram meus colegas na Escola Profissional de Música onde ensinei Inglês durante dois anos. Uma delas, Wendy Quinlan, que foi professora de flauta do meu filho, deixava-nos sempre bilhetes grátis na bilheteira e marcava os primeiros bancos para mim e filhos. Uma mordomia, que nunca me soube demais, pois a igreja nunca enchia. Era mesmo amiga deles e depois dos concertos , por vezes, íamos ao antigo Café dos Clérigos comer bolo de chocolate e conversar. Já só resta uma na Orquestra do Porto. Todos os outros, a Wendy, flautista australiana, o Gilles, francês que tocava fagote, o John e a Jean, violistas ingleses, se foram embora. Só ficou a violinista Nancy americana. Eram um grupo fixe que me deixou saudades.
O meu filho ainda agora fica em casa da Wendy e do marido quando tem de ir a Bruxelas - quase todos os meses - e toca flauta com ela. É um prazer para ele estar com uma pessoa tão talentosa.

Martha Argerich delicia-me com os seus trilos, o seu cabelo cinzento e desalinhado, o vigor e a emoção que saem das suas teclas. A orquestra acompanha-a na perfeição....um concerto indescritível e que me deixa sem fala. É argentina, avessa aos media, já gravou para inumeras editoras. Tem 70 anos e venceu um cancro do pulmão detectado em 1990, que a obrigou a ablação de parte do órgão em questão. E está aqui a deliciar-me com o seu talento, a sua energia e expressividade.

Acabou. A audiência de pé aplaude-a com entusiasmo, diria, com fervor. Martha, por favor, toca um encore, suspiro eu....e todos os outros comigo. E ela toca mesmo. Obrigada.

Podem ouvir um excerto do mesmo concerto aqui e agora:)

Muse : Butterflies and hurricanes

Amanhã os jovens vão-se manifestar. Contra quem, contra quê? Todos nós sabemos. Só ignoramos é quem os vai ouvir. Muitos irão apoiar. O PM dirá com um sorriso: É carnaval, ninguém leva a mal.
Eu contraporia com outra frase : É um despautério, mas ninguém os leva a sério!

Ofereço-lhes uma canção dos MUSE:

BUTTERFLIES AND HURRICANES

Change everything you are
and everything you were
your number has been called

Fights and battles have begun
revenge will surely come
your hard times are ahead

Best you've got to be the best
you've got to change the world
and use this chance to be heard
your time is now

Interlude

Change everything you are
and everything you were
your number has been called

Fights and battles have begun
revenge will surely come
your hard times are ahead

Best you've got to be the best
you've got to change the world
and use this chance to be heard
your time is now

Interlude

Don't let yourself down
don't let yourself go
your last chance has arrived

Best you've got to be the best
you've got to change the world
and use this chance to be heard
your time is now


quarta-feira, 9 de março de 2011

A minha rua

A "minha" rua que não é a minha, afinal.

Moro na Rua do Campo Alegre, mas considero que a minha rua é a António Cardoso, dado que é por ela que saio e entro todos os dias, a minha porta não tem saída directa para o Campo Alegre, só jardim com murete alto.
Percorro muitas vezes aquela que considero minha, não só para apanhar o autocarro na Av. da Boavista, como para ir ao Pingo Doce ou ao BB Gourmet, um restaurante muito français e muito in, que frequento amiude, sobretudo quando cá está o meu filho mais novo. Já por lá vi várias vezes o treinador do FCP, Villas-Boas, o que só por si, já é uma boa razão para lá ir :)).
Não sei quem foi A. Cardoso, confesso, Também não nasci cá, de modo que só comecei a conhecer estas ruas porque os meus filhos tinham festas de anos por aqui. É uma zona pseudo-queque, chique, com apartamentos bem construídos e caros. Só vim para cá para estar ao pé do meu filho e netos numa altura mais difícil da minha vida. Ainda estou a pagar a casa...

Ontem fui fazer compras e embora estivesse a chuviscar, resolvi vir pela rua fora a observar pormenores e a tirar fotos com o meu I'Touch que é um Ipod com câmara, muito leve e que transporto paa todo o lado, pois gosto de ouvir música quando ando a pé.
Nesta rua, uma das mais arborizadas e floridas desta cidade, há de tudo:casas apalaçadas ( numa delas viveu Sophia), como a Casa das Artes, lindíssima e abandonada à sua sorte, a Galeria Cordeiros, com colecções de pintores ultra-conhecidos, casas abandonadas que me fazem lembrar o livro The Secret Garden, onde uma miuda conseguia entrar num jardim secreto, cheio de plantas entrelaçadas , fontes e animais, há prédios bem feiosos, mas chiques com seus jardins e salas para festas, há ainda o tal restaurante, onde ontem bebi um chá maravilhoso e comi dois scones para matar saudades da Inglaterra; há ainda a vista da Casa Andersen no Jardim Botânico, rodeada de árvores centenárias e com histórias para contar. Last but not least, na esquina das minhas duas ruas :), há uma loja de decoração chamada Sinergias com um extraordinário bom gosto, onde já comprei duas mesas, qualquer delas muito original e não demasiado caras.





Andar por esta rua ao fim do dia é ouvir dezenas de pássaros que se refugiam nas árvores da zona - agora há menos gaivotas, felizmente - e gozar em pleno duma visão do que seria a cidade ideal com espaço, plantas, recantos, algumas lojas e pouco transito nas horas que não são de ponta.
Tenho muita sorte de morar aqui.

terça-feira, 8 de março de 2011

O PIANO

A palavra piano, derivada de pianoforte em italiano, tem um som adocicado, que soa bem e é igual em todas as línguas - excepto na alemã, que como sempre tinha de nos contradizer, chamando-lhe Klavier -
Também assume significados diferentes, podendo referir-se ao modo de tocar, mais suave ( pianissimo- muito suave).
Mas o que é um piano?

O som é produzido quando os batentes, cobertos por um material (geralmente feltro) macio e designados martelos, e sendo ativados através de um teclado, tocam nas cordas esticadas e presas numa estrutura rígida de madeira ou metal. As cordas vibram e produzem o som. Pintura de Claudia Barbican
Praticamente todos os pianos modernos têm 88 teclas. As teclas das notas naturais (dó, ré, mi, fá, sol, lá e si) são brancas, e as teclas dos acidentes (dó #, ré #, fá #, sol # e lá # na ordem dos sustenidos e as correspondentes ré b, mi b, sol b, lá b e si b na ordem dos bemóis) são da cor preta. Todas são feitas em madeira, sendo as pretas revestidas geralmente por ébano e as brancas de marfim ou material plástico.
É de referir que um piano normalmente fica ligeiramente desafinado quando é transportado ou quando é sujeito a fortes correntes de ar.

- Wikipedia

Comecei a tocar piano aos seis anos, creio eu, assim como os meus irmãos todos. Não sei como é que os meus pais conseguiam pagar as lições - 50 escudos cada na altura - pois era uma fortuna, mas todos nós nos sentámos no banco em frente às teclas, com maior ou menor apetência para as fazer vibrar. A nossa professora, a quem chamávamos Fernandoca na intimidade era uma senhora reboluda com caracois ruivos, que se gabava de conhecer meio mundo - ela e o meu Pai conheciam o mundo inteiro! - e nos contava histórias do meio musical, as competições e a dificuldade de vencer e ser pianista. Nada disso me interessava muito, devo dizer, pois não tencionava ser uma intérprete famosa e nem sequer fiz os exames do 3º ano no Conservatório, como duas das minhas irmãs, mais dotadas, segundo se dizia na família.
Lembro-me que as "minhas" peças mais famosas eram A Marcha da Aida, que o meu Avô dirigia, por vezes, assinalando os fortíssimos que eu atacava com toda a garra e a Dança Húngara nº5 de Brahms, muito mais melodiosa e com um ritmo infernal, que me apetecia mais dançar do que tocar. Para alem disso tocávamos os Czerny, os Bach e os Schmoll, como todos os meninos que começam. Deixei de tocar na adolescência porque já não era obrigada a isso, estava numa fase rebelde e achava que escrever histórias, ler ou fazer tricot tinham muito mais interesse do que passar horas a toquipar, que era o que eu fazia. Mais tarde fiquei com pena e ainda recomecei sozinha a tocar Clayderman quando comprámos um piano digital para o meu filho. Esse toca bem, mesmo improvisado, e acompanha o meu neto no violino sempre que vou lá a casa. O seu talento para a música é algo que não herdou nem de mim, nem do Pai, faz parte dele e sempre foi uma das suas paixões.

Um dos filmes que mais me impressionou na vida e que vi aqui na saudosa Casa das Artes duas vezes na mesma semana tal foi o meu entusiasmo, chama-se O Piano. Não vou falar aqui do filme, mas da música de Michael Nyman, que é transcendente, uma das criações para cinema mais belas que conheço. As imagens do filme assentam como uma luva na música - ou vice-versa - o filme é a música, a alma, a viagem, a tortura, a paixão de dois seres que se revêem naquelas teclas.

Aqui fica o vídeo para recordar. Ainda agora esta melodia me faz arrepios.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A nossa TV

Oiço um pianista, Nicholas Angelich, a tocar Rachmaninov com uma limpidez e sentimento inegualáveis, num concerto em Lyon. A música de tecla enche a minha sala e transmite-me paz e serenidade. Rachmaninov é um dos meus compositores preferidos, sobretudo pelas obras que deixou para piano. Cada vez gosto mais de ouvir estes programas e troco-os de mão beijada por qualquer telejornal, seja ele da SIC, TVI, SICN ou RTPN....é tudo igual, queixas e mais queixas, assaltos,polítiquices, fogos, cenas chocantes, pessoas aos berros, futebol até dizer BASTA! Não há direito de se encherem horas e horas de emissão com programas destes, estupidificantes, sem o mínimo nível, chatos, como diriam os jovens "uma seca!"

Ontem vi por acaso um programa na SIC N as 2 da manhã que é sempre excelente : 60 minutos. Nele deram uma reportagem sobre o filme " O Discurso do Rei" ( não percam), mostrando como as fontes de que se serviu o escritor David Seidler foram seguras e o filme seguiu à letra tudo o que estava nas cartas do Rei Jorge VI a Lionel Logue, o seu terapeuta, assim como as fichas clínicas do último e ainda testemunhos do seu neto. O verdadeiro Logue era muito mais bonito do que Geoffrey Rush, (que também é australiano e um actor excepcional na minha opinião), e Colin Firth não tem a finesse dos traços do verdadeiro rei, mas a verdade é que, ouvindo os discursos lado a lado, a diferença é quase nenhuma. Colin Firth e Geoffrey Rush aparecem juntos e sempre com um sentido de humor espectacular na entrevista para a CBS. Encontrei o programa ou um identico em

http://www.cbsnews.com/video/watch/?id=7357190n

Fica aqui a minha homenagem também ao piano e a Rachmaninov - Prelúdio tocado por Vadim Chaimovich - que me acompanham enquanto escrevo esta entrada e sofro as saudades dos meus netos que partiram ontem para a Alemanha....avó sofre!