sexta-feira, 9 de julho de 2010

O verão na minha rua


Sentada no sofá da minha sala, contemplo as árvores - mais de dez espécies diferentes - que se vêem daqui da janela e que me envolvem no seu manto verde quase amazónico. Ontem chuviscou um pouquinho à noite e foi o bastante para toda esta verdura resplandecer, livre dos pós e poluição do Campo Alegre, povoado de carros, autocarros e motociclos de manhã à noite.A esta hora o folhedo agita-se levemente com a nortada fresca e os cambiantes de cor vão mudando, mostrando as várias realidades que cada planta é em si mesma ( ver artigo sobre Física Quântica da minha amiga Regina no seu blogue). O sol inunda-as de luz, luz essa que virá a diminuir à medida que o dia for morrendo. No verão, quase não vejo a casa dos Andresen, apenas a torre de vigia, donde se avistava o mar no tempo em que não havia torres junto ao rio. Ouvem-se risos de crianças, mães que vêm do trabalho e trazem bébés pela mão. Alguns choros revelam o cansaço das crianças ao fim de mais um dia.Também as gaivotas embarcam neste desvario cruzando os ares em voo apressado.

É a chamada hora de ponta, a que os ingleses chamam rush hour, excitante para quem a observa da varanda, mas não para quem se enreda em filas intermináveis de veículos, ansiando por chegar a casa.


Não trocava esta localização por outra aqui perto. Gosto de sentir o pulsar da cidade.
Gosto desta sensação de que há vida para lá do meu pequeno círculo e mergulho em conjecturas sobre quem serão estas pessoas, donde vêm , para onde irão.Nunca saberei.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Algo que nunca se esquece



Recebi agora mesmo um e-mail e estou lavada em lágrimas. Por isso quero escrever esta Entrada, exprimindo a minha surpresa=comoção neste momento único, que me transportou sete anos atrás para recordar uma das melhores turmas que tive na Escola Carolina Michaelis e um dos melhores e mais criativos alunos que aí encontrei.
Nunca me tinha ocorrido que o meu blogue pudesse ser lido pelos meus alunos - e tive-os às centenas, aqui e em Lisboa, na Beira Baixa e Chaves - e também nunca imaginei que um deles tivesse vontade ou coragem de me escrever aqui. O blogue foi sempre uma coisa de adultos.
O aluno que me escreveu já é adulto. Deve ter uns 23 anos agora. Era o Diogo, que fazia gato-sapato de alguns professores, muito brincalhão, com uma inteligência espontânea acima da média e uma fluência de Inglês extraordinária. Fazia-me rir, o que não acontecia com muitos alunos de 16 anos.Só falava em inglês, até me esquecia que ele era português. Ainda me lembro do lugar dele, na 2ª fila em frente ao quadro, com o cabelo encaracolado e a tez morena. Tinha a paixão da Moda e nessa altura, daria toda a sua mesada por uns jeans cheios de rasgões, muito "baggy" (largueirões) que chegavam quase ao chão. Uma vez em que o chamei ao quadro, virou-se em pose e perguntou : "Do you like my pants?"( Gosta das minhas calças?) Fez aquilo tão espontaneamente que dei uma gargalhada e tive que dizer que sim, que as adorava...a partir daí, conversávamos de moda muitas vezes, embora fosse tema que eu não dominava de modo nenhum. Por acaso , agora, até vejo os Project Runway, na Sic Mulher, que são apaixonantes e que ele deve adorar.
Esta turma foi uma das maiores que tive- penso que seriam 29 alunos - e que mais recordações me deixou naqueles dois anos em que lhes ensinei inglês. Um outro aluno, chamado José Carlos fez uma apresentação das eleições americanas - do Bush - em transparências que nem um professor da Faculdade o faria tão bem. E havia lá uma rapariga, cujo nome agora me escapa, que era louca pelo Harry Potter, e que ansiava pela saída do novo livro em inglês para o ler...e também uma outra rapariga que era fan fiel do Boavista, contrastando com os restantes, quase todos portistas.

Que saudades...de repente desejei ser outra vez professora, poder inspirar alguém desta maneira.

O email está escrito em inglês, mas não hesito em colocá-lo aqui. Espero que não interpretem isto como um sinal de vaidade ou show off, mas como homenagem sentida aos meus alunos - que porventura andarem por aqui - e a uma das profissões mais belas que existe no mundo.

E se leres isto, Diogo, acredita que os alunos dão muito mais aos professores do que vice-versa. A sua espontaneidade, generosidade e juventude faz-nos rejuvenescer também...e, amiúde, sobreviver para lá dos problemas e imbróglios da Educação em Portugal.

Dear Teacher Virgínia

I do not know whether you remember me, but I was a pupil of yours a few years ago (in 2003, I think) at Carolina. I have accidentally found your blog and could not help but contact you to let you know that I absolutely loved having you as my teacher. Sometimes I still dream back to our classes in those crowded classrooms, with an overcast sky outside partly shielded by the dusty green curtains that made us all suffer from rhinitis; and no matter how despondent I feel it never fails to make me smile.
I have always had a passion for English, both the language and the culture, so it is not remarkable that an English teacher during my adolescence should have made a lasting impression on me. However, you are not remembered as just yet another teacher, but as a person whose inspirational teaching not only helped me improve my fluency but also grow up as a human being.
I hope I am not disturbing you with these ramblings of mine. I also apologize for writing in English. But I wanted to get back to the past, even if just for the span of an email…

Thank you for everything,

Diogo de Melo Lourenço

terça-feira, 6 de julho de 2010

Voltei à Escola

Hoje voltei ao atelier...e foi uma festa. Fiquei feliz com a recepção de pessoas que só me conhecem muitas delas há meses...é mesmo uma família, onde se cria e pinta, mas onde se trocam impressões, contam-se histórias, recordam-se episódios das nossas juventudes ou infâncias - tão diversas - e sobretudo, onde se sente uma camaradagem que não dá lugar a invejas, a competição ou a mesquinhez. É tudo são e bonito.

Estava lá uma exposição que tinha sido inaugurada no dia 19 quando fizeram a churrascada de S. João, à qual não estive presente. Lá estava o meu quadro que destoava um tanto dos outros em estilo. Não gosto muito de expos colectivas porque acho que a maioria dos quadros ficaria melhor isolada numa parede. Havia lá quadros lindos, mas no meio de todos, nem se notam. São gostos....

Encontrei dois quadros meus por acabar, já nem me lembrava bem deles. Acabei-os ou pelo menos considero um deles terminado.
Comecei-o há uns três meses quando me iniciei no impasto pela primeira vez. Neste usei técnicas em acrílico que nunca tinha usado, misturas muito líquidas - aguadas - que se vão sobrepondo sobre os relevos do impasto e deixados a secar de forma a diluirem-se e a tomarem formas de cores diferentes.
O quadro está mesmo bonito, graças ao meu professor que foi sugerindo as mudanças. Deste gosto ( ainda bem porque já estava a ficar deprimida com a minha falta de motivação).

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Lavender


A minha Avó gostava muito de alfazema, assim como a minha sogra, que a cultivava no seu quintal. Desde miúda habituei-me a ver fotos de campos de alfazema, nos livros ingleses e em calendários, em pinturas impressionistas, em embalagens de sabonetes ou anúncios de colónias. É um cheiro intenso, mas agradável, que nos fica na memória, mesmo quando já nada temos em casa com esse odor.

Há anos comprei em Leeds um calendário, cujas páginas eram todas elas campos de alfazemas. Separei as folhas, cortei-as e colei-as com blu tack no meu quarto de banho. Ficou lindo...agora como tenho paredes em mármore rosa ( de que não gosto muito), já não posso fazer isso, ficaria piroso e destoaria muito em estilo.

Hoje resolvi pintar e encontrei uma foto linda no site one.exposure de que já falei aqui. Não ficou nada parecido, fi-la com pasteis de óleo, de que já está estou destreinada, ultimamente não tenho gostado de nada do que faço.

Este ficou razoável, embora, provavelmente, vá para a capa dos muitos que já fiz e não ficaram para a história :))

domingo, 4 de julho de 2010

A praia dos "pobres"



A Foz é zona de ricos, de gente abastada, que se orgulha de ter nascido no Porto, na zona mais "queque" da cidade, onde o mar e o rio se abraçam e as vistas se alargam até ao horizonte quase até às Américas, tivéramos nós olhos telescópicos. A Foz sempre foi a zona mais cara por metro quadrado, está hoje repleta de condomínios fechados, que se amontoam sem grande beleza de modo a proporcionar aos habitantes mais mar das suas varandas. E continua cara, apesar de haver outras zonas chiques como Matosinhos sul.

Simultaneamente,a Foz continua a ser e será sempre o local de veraneio dos mais pobres,os velhotes da 3ª idade, aqueles que vão no autocarro 200 ou no 204 ( como eu) para ver o mar e apanhar sol aos Domingos.
Gosto de me misturar com esta gente do povo, fico feliz de os ver ter uns momentos de lazer entre dias difíceis de trabalho árduo fora e em casa, saúde precária e falta de dinheiro para o essencial. Falam das suas vidas, dos hospitais, dos medicamentos cada vez mais caros, dos patrões ( que os não ouvem, pois não andam de autocarro), das rendas, enfim, de temas banais do seu dia a dia.
Rui Rio disse ontem que em 2011 todas as praias da Foz teriam bandeiras azuis. E Acrescentou que a Praia dos Ingleses ( a minha :))) tinha poluição zero neste ano.Que isto era bom para que as pessoas mais pobres da cidade pudessem usufruir de férias junto às suas casas. Diria mesmo, quase à soleira da porta.

Fui lá confirmar. A bandeira azul, como o algodão, não engana...estava hasteada com orgulho junto ao muro de betão. Este ano, vêem-se mais pessoas a gozar da areia, do sol e do mar. Acolhem-se do vento - que hoje quase não soprava, deitando-se junto às rochas protectoras. A água está fria, mas límpida e a vista continua soberba com o novo molhe a servir de barra. Não enxameiam as praias como na Costa da Caparica ou em Cascais, são em número muito sustentável e não fazem barulho.
O Café do Ingleses pôs uma nova veste para o Mundial, vermelha e verde a cobrir uma parte da sala onde ficam os pufs e a TV. Cá fora está-se bem e ainda melhor na areia junto ao mar.


À vinda vou para a paragem, onde já umas sete pessoas aguardam o autocarro, que já lá está postado, sai pontualmente de vinte em vinte minutos e passa em frente da minha casa. Irmano-me com os mais pobres, sem qualquer preconceito, não tenho carro, também gosto de mar e de sol e não me importo nada de conviver com gente anónima para mais um "evento" estival.Que a sorte e a saúde me permitam ter muitas tardes assim. Gente rica e gente pobre reunidas no local mais democrático que conheço: a praia.