sábado, 19 de junho de 2010

A saga continua



A calheta na minha imaginação. Acrílico s/ tela

Hoje fiz um dia calmo.
Não me apeteceu ir à praia, levantei-me tarde e estive a ver o futebol na TV. Estava demasiado preguiçosa e só me apetecia não ter que fazer. Acontece.

Estive depois a pintar...longamente...lá fora, apesar do vento que quase levantava a tela e fazia voar os pinceis. Sentei-me no jardim a olhar para o mar que estava dum azul safira. Pintei uma calheta, que não é esta, mas parece. Ontem o céu estava carregado, o que não é costume, por isso resolvi pintar um céu mais dramático do que o que hoje vi. As rochas também são diferentes, não consigo pintar estas, têm demasiadas recordações e estão demasiado vivas:).
Havia algumas pessoas a tomar banho e a água transparente seduziu-me...mas acabei por ficar a contemplar o oceano em vez de me aventurar a descer as rochas cheias de limo verde, daquele que escorrega e é perigoso.

Às seis apanhei um taxi que passou por acaso quando me preparava para apanhar a camioneta que vai para Lagos com a minha filha. Apetecia-me ir comer a qualquer outro sítio e o condutor recomendou-me uma casa de pasto que fica mesmo na marginal em frente à marina, foi lá comigo e perguntou à patroa se tinha ameijoas à Bulhão Pato.Démos um passeio a pé pela cidade que continua airosa e branquinha como sempre a conheci, cheia de turismo e restaurantes, casa sim, casa não.

Eram seis e meia já estávamos abancadas para jantar ( não tinha almoçado e a fome era negra), e o "fino" mais o pão com pasta de sardinha soube-me pela vida.
A minha filha comeu uma sopa de peixe divinal, depois devorámos uma dose pequena de ameijoas - lembrei-me do meu Pai que adorava esta receita - e por fim ainda conseguimos comer uma dose de carne de porco à alentejana ( mais ameijoas!!!). Soube-me tão bem esta refeição algarvia que acabei por ir à Taquelim, a célebre casa dos Dons Rodrigos comprar uns docinhos para comer agora à noite. Há coisas boas na vida! E sou uma privilegiada por poder dar-me a estes luxos...assim com pouca gente, como gosto. Lagos está muito animada, só com estrangeiros, nem se vêem locais...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Escrito na pedra



Não tencionava escrever mais nada no blogue hoje.

Ao fim da tarde dei uma volta a pé pelas rochas aqui em frente de casa e a luz estava belíssima,tão diferente do habitual, que tirei umas vinte fotos.
Acabei por descobrir inúmeras inscrições e desenhos, assim como dezenas de fósseis, que são muito interessantes e falam de histórias e aventuras de animais ou de pessoas que por aqui passaram há muitoa anos.


Um amigo meu, que costuma comentar aqui, diz que escreveu o seu nome nestas rochas nos seus tempos de juventude, mas não encontrei nenhum vestígio dele...:)



Aqui vão algumas fotos desta bela tarde e uma homenagem a estas rochas que já viu quatro gerações...

Uma destas rochas, a que podem ver em baixo era apelidada de rocha da Tia Bicas, nome por que sou conhecida na família, pois era a minha preferida para mergulhos de cabeça na maré cheia. Custa a acreditar....mas é verdade.

Adeus, Saramago



Hoje faleceu José Saramago. Escolheu viver longe de Portugal numa ilha, cercado de mar por todos os lados. Lanzarote foi o seu refúgio. Não gostava de Portugal. Lá teria as suas razões...como Maria João Pires e outros grandes vultos da nossa cultura, achava-se mal amado no nosso país. Não era persona grata, por muito que agora todos os amem e exaltem.
Nunca fui apologista das suas obras, so li duas e gostei: Todos os Nomes e O Ano da Morte de Ricardo Reis, mas houve outras , entre os quais o Memorial do Convento que deixei a meio ou a 1/4. Não vou aqui homenageá-lo, acredito que foi uma personalidade única na cultura portuguesa e será sempre lembrado como pessoa corajosa e polémica. Não sei se todos os que compram os seus livros os lêem...tenho dúvidas. Mas há jovens que o lêem e gostam. Ainda bem.

À minha filha

Hoje acordei com os passarinhos, que aqui cantam a qualquer hora. Na casa ao lado há um grande pinheiro manso, que por sinal, tem sido motivo de desavenças por nos roubar bastante sol da parte da tarde. O pinheiro agora cresceu e está acima dos telhados, dá um tom florestal ao jardim e abriga estes seres maravilhosos - não sei como se chamam - que cantam desalmadamente, em uníssono com o mar e com o vento simultaneamente.

Gravei-os em vídeo.Vai levar algum tempo a descarregar. Oxalá consigam ouvi-los:



E embora este poema de Sophia nada tenha a ver com os pássaros do meu filme, resolvi transcrevê-lo, pois tem muito a ver comigo e aquilo que estou a viver neste momento. Dedico-o à minha filha Luisa, cuja expressão de felicidade aqui na Luz me encanta.



O POEMA

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo



Sophia Mello Breyner: De Livro Sexto (1962)

Em vez de poema....leia-se blogue...e adapta-se a mim, que não sei fazer poemas.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Agora à noite



Foi um dia em beleza, o primeiro do resto das minhas férias curtas na Luz. Nunca estive aqui só com uma pessoa, embora às vezes viesse sozinha com os meus pais passar fins de semana...e até trazia os meus livros para estudar.
Sempre gostei deste local, talvez porque para além da beleza natural, me permite fazer o que me apetece quando me apetece.

Durante anos em que vim com a família toda e os filhos pequenos, não tinha mesmo liberdade nenhuma e levantava-me cedo para ir ao mercado comprar peixe fresco para eles e levá-los para a praia, dar-lhes de comer, mete-los na cama e dormir a sesta simultaneamente. Por vezes até ficava cansada de estar aqui.E depois tinha de fazer 600 km para regressar, uma viagem horrível, sem ar condicionado e três crianças traquinas.

Desde que eles cresceram, adoro passar férias aqui, a água fria não me incomoda - hoje estavam 19º e soube-me pela vida o banho refrescante em água transparente. Até dancei com a minha filha dentro de água uma valsa e um tango. A minha filha é excelente companhia, está feliz, adora os banhos de mar, cozinhamos menos, comemos fora, passeamos e vemos as estrelas do jardim.
O caminho para a praia foi todo arranjado e parece quase o jardim Botanico com palmeiras, piteiras, aloés e verde por todo o lado. Os ingleses adoram esta praia e só se ouve falar nessa língua, há crianças pequeninas em todo o lado e não conseguimos deixar de pensar an Maddie e no que terá acontecido naquele dia 3 de Maio.
Para a semana prometo-vos fotos do luar por detrás da palmeira da minha Avó,é uma visão maravilhosa. Oxalá não haja nuvens.

A natureza em mutação


É curioso como esta paisagem aqui da prainha em frente da nossa casa se transforma de ano para ano....o mar, senhor disto tudo traz e leva areia, cobre e descobre as rochas, transforma-as em viveiros de mexilhões, arranca pedaços, esconde outros bem visíveis,molda as mais ponteagudas, aguça outras bem polidas; num inverno de temporais e suestes ( vento que torna este mar pacífico numa fúria de quando em quando), o mar vai esculpindo esta costa à sua maneira, sem olhar a meios e sem se preocupar minimamente com o que pensam os mortais, aqueles que querem gozar duma natureza imutável ou tirar partido de localizações demasiado arriscadas.
Estas casas, construídas em 1965, ficavam já bastante perto do mar, separados dele por um declive de rochas suaves, claras, quase róseas e completamente inofensivas. Tinha vinte anos quando vim pela primeira vez, corríamos daqui para o mar pelas veredas cheias de canaviais e cactos e não havia problemas.
Hoje já com mais de 60 tenho dificuldade em me movimentar daqui para o mar , faço-o , mas com algum receio de cair ou de me magoar ao descer as rochas.. Mas como há uma praia bem maior a 10m a pé daqui de casa, é só andar um pouco mais e aí não corro qualquer perigo.
Esta vista daqui é indescritível....tanto mar, tão azul, tão igual todos os anos, tão poderoso e tão cheio das nossas histórias. Hier encore j'avais 20 ans, canta o Charles Aznavour.
O hibisco , a flor mais bonita que aqui floresce

Fico sempre nostálgica quando aqui estou...


Que é dos meus Pais que tanto entusiasmo tinham por este lar, que compraram todas as peças





Quadro feito de um lenço de seda que ofereceram à minha Mãe


que ainda hoje estão nas paredes ao fim de tantos anos, que é feito dos risos, dos churrascos, dos amigos estrangeiros dos meus filhos, das guitarradas, das noites na praia com cobertores e a ver as estrelas, que é dos meus filhos, a crescerem aqui felizes, cheios de amigos, fazendo cinema com a minha câmara Sony, entrevistas e até uma longa metragem chamado LULA 5 1/4? Era um relato sobre um mafioso chamado Giovanni, que lutava contra um russo apelidado de Luisov. Havia uma Virginia Wolf que morria logo no primeiro episódio:((( E ainda o José, menino queque da praia da Luz, que andava munido dum facalhão da cozinha, extremamamente sonso!! E duas misses inglesas, que ficavam histéricas e davam murros na mesa!! Bons tempos....mas é grato recordar.

Fortaleza que dantes parecia abandonada e agora é um restaurante de luxo

Tenho de ir para a praia, são boas horas de experimentar a água gélida....a minha filha já foi há um pedaço...o sol está ferver e convida a um banho.Até logo!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Passagem para a LUZ



Depois de amanhã vou de férias....o que não quer dizer que o blogue faça férias, pelo contrário. Já estou munida de um canguru ( passe a publicidade) e do meu Apple e , se Deus quiser, continuarei a escrever e até a colocar aqui as pinturas que o local me inspirar.
Se o tempo estiver bom, é possível que passe bastante tempo na água ou ao sol...a ler ou a ouvir música. Sou doida pela água límpida da Calheta ( nome da baíazinha em frente da nossa casa de família, que se vê nesta foto tirada da Fortaleza)
Nunca tive net em casa na Luz; no ano passado, ia a um café muito castiço , onde os ingleses se reuniam e onde se comiam uns belos D. Rodrigos a par dos passeios pelo ciberespaço. Mas este ano achei que não dispensava a net, faz-me falta fisicamente (!), de modo que vou com a certeza de que não deixarei de comunicar com os amigos.

Em 2004, tirei algumas das mais belas fotos da Praia da Luz que possuo. Aqui vão algumas...não para fazer inveja, há locais tão ou mais belos que este por esse Portugal afora, mas para verem como Luz é bonita, apesar de toda a desgraça que por lá aconteceu em 2007.
Entretanto, vou ouvindo as vuvuzelas , vendo uns jogos mal amanhados e sem grande emoção pela TV do nosso descontentamento. Hoje consegui que os meus netos não vissem TV durante uma hora e meia que aqui estiveram. É obra. Em contrapartida, tive o prazer de ver o meu filho no Jornal 2 , falando com o seu entusiasmo habitual sobre os projectos de investigação e de parceria com a Carnegie Mellon. É bom ver alguém optimista, sobretudo quando esse alguém é meu filho.



Esta palmeira que fica no jardim da nossa casa foi comprada pela minha Avó para o casamento da minha Mãe em 1940. Transplantada para a Luz em 1966, cresceu e tornou-se um símbolo de estabilidade da nossa família. É lá que eu quero que as minhas cinzas sejam espalhadas, um dia, daqui a muitos, muitos anos...

domingo, 13 de junho de 2010

Foto de família - Woophy Meeting no Porto



Junto à Pérgola da FOZ que foi fotografada em todos os angulos possíveis:))


A foto do grupo diz tudo. Se repararem todos têm máquinas ou mochilas com apetrechos fotográficos. Quem preparou a foto foi o organizador A. Miguel Oliveira, que depois veio postar-se na frente rapidamente enquanto a camara não disparava. É sempre divertido conseguir incluir todos, embora aqui faltassem algumas pessoas que foram directamente ter ao restaurante. Depois disto fizémos um longo passeio a pé até Matosinhos, cerca de 1km e meio, junto ao mar.

Foi um dia para mais tarde recordar.

Já se preparam mais dois meetings, um em Alkmaar- Holanda - este fim de semana e outro na Eslovénia em Setembro. Quero ver se consigo ir a esse. O próximo de Portugal será no Algarve em Abril de 2011. Conto lá estar...com ajuda da Ryanair.